A minha irmã caçula, minha pequena rosa
Tenho uma irmã que sua sede de vida era tanta que, ao nascer, matou, no parto, sua mãe biológica. A vida é mesmo essa crueza bela cuja força de existência é capaz às vezes de subsumir tudo ao seu redor para apenas “ser”.
Sem o amparo maternal e paternal (neste caso por outros motivos), minha avó a trouxe do interior para Salvador, a fim de que ela fosse tratada (hoje tenho a convicção de que ela planejava que adotássemos minha irmã, o que terminou por ocorrer), já que nasceu muito doente. Os médicos, no entanto, sentenciaram sua morte inescapável, que ocorreria, na melhor das hipóteses, em semanas. Ignorante e sábia, como era minha avó, ela não leu os laudos médicos, recusou as determinâncias científicas e, contrariando o ceticismo consensual acerca da vida daquela criança, ela sentenciou através de sua fé: -Você vai viver!
Hoje, após tantos desentendimentos com minha irmã por suas travessuras, compreendo melhor a sua dor existencial de um nascimento homicida que atravessa a carne, dilacera o espírito e não sara facilmente em uma só vida, apesar da acolhida que teve no seio de minha família...
Hoje, nos olhos de minha irmã caçula, minha rosa (com todos os seus belos espinhos), vejo refletida a fé que lhe deu vida. Fé que invejo e para alcançá-la preciso desaprender muitas coisas, para crer sempre que é possível intervir no curso do rio, apesar do fluxo caudaloso das águas.
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2 comentários:
Um dos textos mais lindo que li teus. Precioso! De uma sensibilidade masculina!
Eu, que não tive, irmãos, fico impressionada com a força poética das imagens contidas neste texto.
Lindo!
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