Uma boa esquiva é ameaçadoramente o golpe em devir, com toda vontade de potência... Ao ser golpeado, esquive-se, olhe fixo nos olhos de seu agressor e faça o deus da guerra dançar ameaçadoramente no seu corpo fora do alvo: a boa esquiva sempre te coloca enquanto potência numa posição privilegiada de ataque, ainda que você não o faça e não o fazendo a potência reduplica-se cada vez mais no corpo engatilhado...
A boa esquiva é sempre proliferante como a diferença e não se traduz apenas em reação a um ataque: ela opera de forma não quantificada para além da força deletéria de origem, sendo, por isso mesmo, assustadora como devir que insinua.
O golpe pode nocautear, mas só a esquiva pode destruir teu adversário, por meio da força satírica que ela encerra, ao impor no cenário de guerra um corpo que se nega ao ataque, ainda que por um instante. Ademais, lembra-te que nem todo oponente é adversário e o golpe deve ser reservado apenas para aqueles dignos de tuas mãos.
Ao ser golpeado, não fuja, não reaja, torne-se, na arte da esquiva, aquilo que você é: ad majora natus. Ao ser golpeado, lembre-se que Nietzsche recusou muitos adversários com sua esquiva, até que deus, e somente ele, subisse ao ringue. Ao ser golpeado, certifique-se de que realmente soou o gongo e apenas se este som ecoar no recinto, sorria, alongue-se, aqueça-se, ponha as luvas e honre o seu verdadeiro adversário.
Saudação Thai!
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
terça-feira, 30 de agosto de 2011
domingo, 15 de agosto de 2010
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Onde as águas...
O rio não é o fio
Que corre (n)o leito.
O rio é também o ar liquefeito
em chuva oblíqua,
obtusa
ou ainda a lágrima
que inunda o peito.
Quando desertam as águas do rio,
nem o deserto hostil
escapa ao seu efeito:
as águas vazam a fenda da terra
e nelas repousa calmo,
rarefeito,
o segredo de todas as eras.
Ora iê iê ô!
Que corre (n)o leito.
O rio é também o ar liquefeito
em chuva oblíqua,
obtusa
ou ainda a lágrima
que inunda o peito.
Quando desertam as águas do rio,
nem o deserto hostil
escapa ao seu efeito:
as águas vazam a fenda da terra
e nelas repousa calmo,
rarefeito,
o segredo de todas as eras.
Ora iê iê ô!
sábado, 30 de janeiro de 2010
Ora ie iê!
Há 12 anos, atravesso um corpo que é todo rio e ele é meu labirinto. Perdi o fio do novelo que apontava a saída, quando soçobrei na vontade náugrafa de escrever-me em águas polimorfas e, inscrito avesso à massa volátil, existo à deriva, no deambular fluido de meus pés que, no fundo, nunca desejaram chegar.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Luthiers do tempo
Ao amigo Zé Carlos
Se o Tempo fosse instrumento,
apenas dois artífices
fabricariam o motor sinestésico dos tons, das cores, dos sons
no arpejo de cordas premidas na haste do vento
Se o Tempo fosse instrumento,
o gesso espesso nas mãos de Rodins e da Vincis
não se tornariam arte princeps de ateliers.
Na sombra, no vão, no hiato lato do momento
Paulinho e Gil - luthiers -
esculpiriam na precisão do corte
o próprio tempo – sepulcro da vida e da morte
Se o Tempo fosse instrumento,
apenas dois artífices
fabricariam o motor sinestésico dos tons, das cores, dos sons
no arpejo de cordas premidas na haste do vento
Se o Tempo fosse instrumento,
o gesso espesso nas mãos de Rodins e da Vincis
não se tornariam arte princeps de ateliers.
Na sombra, no vão, no hiato lato do momento
Paulinho e Gil - luthiers -
esculpiriam na precisão do corte
o próprio tempo – sepulcro da vida e da morte
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Todos os tempos
Hoje meu corpo é tambor,
nas minhas entranhas rufam no agora
todos os tempos,
[por falar em Tempo, peço a sua benção].
Como instrumento esculpido por mãos negras,
meu corpo arfa, arpeja
no silêncio:
tempo, tempo, tempo.
nas minhas entranhas rufam no agora
todos os tempos,
[por falar em Tempo, peço a sua benção].
Como instrumento esculpido por mãos negras,
meu corpo arfa, arpeja
no silêncio:
tempo, tempo, tempo.
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