domingo, 15 de agosto de 2010

... travessia

O silêncio é meu óbolo ao barqueiro.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Onde as águas...

O rio não é o fio
Que corre (n)o leito.
O rio é também o ar liquefeito
em chuva oblíqua,
obtusa
ou ainda a lágrima
que inunda o peito.

Quando desertam as águas do rio,
nem o deserto hostil
escapa ao seu efeito:
as águas vazam a fenda da terra
e nelas repousa calmo,
rarefeito,
o segredo de todas as eras.
Ora iê iê ô!

sábado, 30 de janeiro de 2010

Ora ie iê!

Há 12 anos, atravesso um corpo que é todo rio e ele é meu labirinto. Perdi o fio do novelo que apontava a saída, quando soçobrei na vontade náugrafa de escrever-me em águas polimorfas e, inscrito avesso à massa volátil, existo à deriva, no deambular fluido de meus pés que, no fundo, nunca desejaram chegar.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Luthiers do tempo

Ao amigo Zé Carlos


Se o Tempo fosse instrumento,
apenas dois artífices
fabricariam o motor sinestésico dos tons, das cores, dos sons
no arpejo de cordas premidas na haste do vento

Se o Tempo fosse instrumento,
o gesso espesso nas mãos de Rodins e da Vincis
não se tornariam arte princeps de ateliers.
Na sombra, no vão, no hiato lato do momento
Paulinho e Gil - luthiers -
esculpiriam na precisão do corte
o próprio tempo – sepulcro da vida e da morte