A Ben, a Pantoja
Na madrugada “gosto de ser e de estar”. Nela, o silêncio ata-me e habita-me, com o maior medo do homem: o mutismo ensurdecedor de sua legião interior, ou seja, como diria Freud, do seu unheimilich (o estranho, íntimo e extremamente familiar que nos constitui, ainda que recalcado, e projetamos em outrem).
Nesse mar abissal de manto escuro, naufragam todas as nossas rotas em um espelho anti-narcísico e contrário aos nossos desejos que nos levam a lugares ignotos, inesperados.
“Ser-e-estar na madrugada” também é cuidar de si, compreendendo que na madrugada toda ira, todo amor, toda lira, toda dor é absurdamente presença no silêncio de um amanhecer que sempre virá, ainda que tarde o dia.
A madrugada chega para anunciar, às vezes, que não, não agora, ainda não é tempo-já de dormir, pois viver é, sobretudo, estar à deriva.
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2 comentários:
Hoje eu estava pensando: são tantas palavras lindas – suas e de outros amigos... Cada um com uma visão muito particular de dor e de consolo. Acho que é injusto manter um conteúdo tão rico num espaço restrito de apreciação.
Estou com vontade de reunir tudo o que foi escrito sobre Ben nessas últimas semanas e providenciar a tradução para o alemão, de maneira a enviar os textos para a família dele, na Suíça. Pais e irmãos que amargam seu próprio deserto de desesperança.
Talvez uma maneira diferente de retratar o drama e de oferecer conforto – um jeito brasileiro de falar sobre o futuro – faça a diferença, sendo um pequeno tesouro digno de partilha.
Então, além de agradecer pela beleza inegável das suas frases e pela delicadeza ímpar do gesto, aproveito para pedir autorização. Posso traduzir e enviar seu texto?
Um abraço gostoso
Vim aqui te dizer que adorei o anagrama! Agora que a viagem é mais longa - 12 horas! - só com "dramin" mesmo. Abraços.
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