sexta-feira, 31 de julho de 2009

Sonho ou torta de chocolate, tanto faz!

Há sonhos que esqueço e, assim, me devoram
E eu sou todo esquecimento
Há esquecimentos que me devoram, daí sou só sonho
Só, sonho que sou só esquecimento,
Aí devoro-te

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A morte do autor ou reescrevendo o poema

Ontem tive uma surpresa aterradora: um antigo poema, daquele que você só assume mediante teste de DNA, apesar de sabê-lo seu filho, retornou para assombrar-me. Explico: não sou poeta, apenas escrevo versos de vez em quando, não me dando ao trabalho sequer de guardá-los, na maior parte das vezes. Ontem, navegando errante pelo cyberspace, descobri que um poema meu foi musicado por Jaguaraci (acho que ele foi um colega de Faculdade) e postado no Youtube. A melodia é doce, é bonita, a letra é quase inaudível pela qualidade da captação do som, mas eu fiquei terrificado com tudo aquilo que aprendera teoricamente com Roland Barthes ao ver-me morto-vivo, autor-ator, des-conhecido, nas dedilhadas que agora ganham o mundo, reescrevendo o poema pelo seu verso.

Ah! Segue o link para matar a curiosidade: http://www.youtube.com/watch?v=JuWKofWC36Q&feature=channel_page

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Confissões kafkianas

Hoje descobri o sentido da palavra insondável. Não explicarei, aliás, não poderia explicar. Apenas digo que por coerência certas palavras deveriam ser exiladas do dicionário para existirem apenas no átimo em que acontecem...

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Moonwalker e estudos de gênero

A Michael Jackson

A palavra é uma arma incomparável, mas há algumas ações que, além de intraduzíveis, são de uma eficiência ímpar, pois desarmam qualquer discurso... E é sobre isso que falarei brevemente hoje: O que fazer para dissuadir um interlocutor sexista, racista, ou qualquer outro ista, quando se esgotam os argumentos e a paciência ante as evidências de suas ações preconceituosas? Uma colega professora, após reincidentes investidas de um estudante em sala, através de comentários marcadamente machistas que, inclusive, buscavam desqualificá-la, “perdeu a cabeça”. Sob o fundo musical psicológico do rei do pop, olhou fixamente o estudante e, em plena classe, não se deu nem ao trabalho de tentar interrompê-lo, já que ele sempre falava mais alto quando ela tentava fazê-lo: pé-antepé, ela apenas flanou tal qual Michael Jackson sob os olhos atônitos da turma inteira que, incontida, começou a rir convulsivamente deixando sem graça o estudante machista que, toda vez que pensava em intervir com seu discurso falocêntrico, temia ver outra vez a professora, um pouco acima do peso diga-se de passagem, fazendo o Moonwalker, expondo, através do próprio corpo, o ridículo das intervenções daquele sujeito.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

O guardião das Letras

A Seu Evilásio (in memorian)

Entrei na graduação da UFBA em 1998 e ele já estava lá, na porta do ILUFBA, a meio caminho de Tebas com seus livros-enigmas, lançando o desafio aos transeuntes por meio das capas duras das edições luxuosas da Aguillar: “decifra-os ou devoram-te!”. A Esfinge sabe-se guardiã de caminhos que só existem na sola dos pés dos viajantes... Seu Evilásio também sabia-se, sob sua alegria soturna, tal qual um gárgula, guardião de templos e de tempos.

Hoje, recebi a notícia da morte de Seu Evilásio que já andava bastante doente. Confesso que me entristeci, pois desconfio que, às vezes, até mais que vender os livros, ele adorava conversar sobre eles com uma intimidade de quem os punha no colo toda noite a niná-los com histórias lidas de outros e de outros e de outros livros, tecendo mil e uma noites de sonhos para cada página.

Nestes 11 anos de convivência com Seu Evilásio, como carinhosamente o chamava, entre cheques pré-datados e aquisições de livros em confiança “para pagar depois”, erigi minha muralha indestrutível e intransponível com simples blocos de papel.

Apenas a voz deste homem continua, ainda agora, tonitruante, a assombrar minha fortaleza, ao apontar para as fissuras que ainda há nas paredes:
“você já viu a coleção nova que saiu?...”